Quem olhou para os céus de Governador Valadares, em Minas Gerais, na última semana viu algo diferente. Mais de 120 atletas disputaram na cidade a etapa final do Mundial da categoria, que encerrou um circuito que passou também por África do Sul, França, Sérvia e Turquia. O espanhol Francisco Javier Reina Lagos, de 19 anos, foi o grande destaque ao se coroar campeão mundial da modalidade. O melhor brasileiro foi Frank Brown, na sexta colocação.
Nesse campeonato o piloto tem de passar por pontos pré-determinados no menor espaço de tempo e liderar ao máximo possível o percurso. Um equipamento completo tem altímetro, variômetro, GPS com cartas aéreas, pesa cerca de seis quilos e tem uma área aproximada de 25 metros quadrados. E custa até R$ 13 mil.
Mesmo com tanta tecnologia, os praticantes enfrentam alguns percalços, como o tráfego no céu ou o risco real de ser atingido por um raio. O UOL Esporte conversou com Sérgio Kawakami, o China, recordista brasileiro de distância de paramotor e juiz geral da Associação Brasileira de Voo Livre para esclarecer os riscos da prática, acidentes e as diferenças entre outras modalidades semelhantes como o paraquedismo e o base jump.
UOL Esporte - No mundial de 2011 na Espanha ocorreram dois acidentes fatais. O parapente é perigoso?
Sérgio China - Bom, em um esporte de competição a tecnologia e a pilotagem ao extremo fazem com que o piloto atinja o seu limite. Mas no geral o esporte é bem seguro, vai depender do piloto, do equipamento e da instrução que teve.
UOL Esporte - Este ano em Minas Gerais um piloto se acidentou ao pousar. O que aconteceu?
Sérgio China - Aqui no dia de treino houve um procedimento de emergência. A vela sofreu um colapso assimétrico e o piloto não conseguiu fazer ela voar normalmente e teve de acionar o reserva
UOL Esporte - O que são colapsos assimétricos ?
Sérgio China - Como o parapente não tem uma estrutura rígida como uma asa delta, em um ar turbulento o shape (forma) do parapente pode sofrer alterações, variações de pressão atmosférica, fazendo com que o velame sofra o tal colapso. De acordo com o grau de equipamento ele reabre praticamente sem a interferência do piloto. Para se pilotar velas de maior performance é preciso ter uma técnica mais apurada.
uoL Esporte - Qual é a diferença de um paraquedas normal, um parapente e um paraquedas de base jump?
Sérgio China - Paraquedas foram feitos para pousar a queda livre. O parapente tem perfil aerodinâmico e foi projetado para voar e planar em alta performance utilizando as correntes de ar para percorrer longas distancias de um ponto a outro. No caso do base jump, a única utilidade é frear a queda livre e pousar.
UOL Esporte - O que é mais arriscado? Pedras, penhascos, alto mar, chuva, raios ou a grande quantidade de praticantes ao mesmo tempo?
Sérgio China - Pedras e penhascos seriam perigosos caso houvesse uma decolagem mal executada ou algum tipo de incidente. Em alto mar isso ocorre só se for algo muito grotesco e houver inexperiência por parte do piloto. Raios são sempre perigosos, e grande quantidade de pilotos navegando ao mesmo tempo não tem problema, se o piloto for experiente.
UOL Esporte - Como você me descreveria um voo de parapente ?
Sérgio China - O voo do parapente é algo que o ser humano inventou que é muito maluco. Você dobra, embala e carrega nas costa numa mochila e transporta no porta malas de carro. É a menor aeronave que foi inventada e com ela você pode percorrer através das nuvens e térmicas (bolhas de ar quente) quilômetros no ar. É maluco ou não é ?
UOL Esporte - Para voar é preciso tirar brevê?
Sérgio China – Sim. É preciso fazer um curso com aulas práticas e teóricas. Depois de aprovado, o piloto recebe um certificado e se filia a um clube e federação estadual e posteriormente à associação brasileira.
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