sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Skatistas fazem "rolezinho do bem" na madrugada de Osasco



Respeite e aproveite. Com esse código de ética esportivo e social, skatistas e carveboarders se reúnem semanalmente na banca de frutas em frente ao Shopping Continental, na divisa entre São Paulo e Osasco, para o tradicional Rolê da Meia Noite.

"Aqui é o Rolê do Bem", conta o jornalista Charles Roberto, de 43 anos, que junto de outros skatistas da região de Osasco transformaram a Avenida Dr. Francisco de Paula Vicente de Azevedo, no extremo oeste de São Paulo, em "point" conhecido para descer a ladeira nas madrugadas de quinta-feira.

"A única recomendação da polícia é tomar cuidado com os carros", adverte Charles, surfista que mata a saudade da praia com seu carveboard (skate com pneus e eixos largos que dão a sensação de surfar no asfalto). De fato, durante as duas horas que a reportagem do UOL Esporte esteve no local, a única viatura que passou por perto sequer desceu a rua.

Nem mesmo a vizinhança reclama desse encontro fora de horário. "Eu moro nesta rua e a única pessoa que reclamava era minha vizinha, um senhora idosa que dizia – até você José?", diverte-se o empresário José Maria Vasquez, de 34 anos. Ele desce a própria rua a bordo de um mountainboard, equipamento semelhante ao carveboard com alças para colocar os pés. "Até ela se acomodou", completa.

O clima familiar também une pais e filhos em torno da ladeira. O publicitário Cezar Souza, de 40 anos, se vangloria de ter ensinado o filho João Victor, hoje com 10 anos de idade, a ter aprendido a andar de skate desde os dois anos de idade.

"Ele aprendeu direitinho até inventarem o Playstation", brinca. O filho, que se equipa com joelheiras, cotoveleiras e wrist guards (protetores de pulso), voltou a andar de skate recentemente depois que viu o pai arrebentar a canela em uma queda.

"Foi motivo de susto e preocupação", diz seriamente o pequeno Victor, mas questionado sobre onde estava o capacete dele, a resposta foi mais rápida que sua descida na ladeira. "Sabe que eu não sei", sorri acanhado.

Quem também estava sem capacete era o veterano Aquiles de Oliveira, de 53 anos. "Eu comecei a andar em 1972, e meu primeiro skate eu mesmo montei desmontando um patins", recorda. "Para quem já passou por todas as fases do skate, hoje eu uso apenas essas luvas, nem para proteção, mas para deslizar", comenta o mais idoso entre o grupo.

Outro que escolheu esse horário para andar é o corretor de imóveis Beto Sanazar, de 39 anos. Beto costuma deixar a namorada em casa e se encontrar com os amigos. "A minha mina está dormindo a essa hora. Para mim aqui é for fun total, ficar com os amigos de 20 anos e andar de skate sem hora pra acabar", diz sorridente o corretor, que utilizou naquela noite rodas especiais com leds que criavam efeitos de luz.

Por volta da 1h30, um carro se aproxima transportando em seu rack um novo elemento para brincar. "Essa é uma rampa ecológica com toda estrutura de madeira reciclada encontrada na rua", sorri Hedlei Semensato, de 38 anos, ao se referir a uma rampa de saltos como "rampinha de 20 contos", preço do único custo que tiveram com a montagem da rampa que era uma folha de madeira nova de R$ 20.

Nesse mesmo horário quem chega para aumentar o quórum ao lado da Avenida dos Autonomistas é a professora Letícia Garbeloto, de 30 anos. "Cheguei agora porque estava na aula, aqui serve de terapia, a gente se diverte e até esquece a hora de ir embora", diz a professora, que desce a ladeira a partir das 2h00 de sexta-feira.

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