Linda e solidária: Fernanda Lima inspira vice-campeã de surfe a se reerguer
Silvana Lima nunca fez papel de musa ou expôs suas curvas nas capas de revista para fazer sucesso no surfe. Foi com seu talento que ela conquistou o vice-campeonato mundial. Mas passou por um momento difícil na carreira ao perder o patrocínio e cair para a divisão de acesso do WCT. Agora, curiosamente inspirada pela bela Fernanda Lima, ela encontra a saída para voltar à elite.
Ajudada por um grupo de amigos, Silvana adotou uma atitude ousada depois de perder o patrocínio de uma marca de roupas. Decidiu fazer um crowdfunding, uma popular 'vaquinha' para arrecadar o dinheiro necessário para arcar com os custos de todas as etapas do circuito em 2014.
A ideia foi inspirada em Fernanda Lima que ganhou fama mundial ao apresentar o sorteio da Copa do Mundo e a Bola de Ouro da Fifa. No ano passado, ela foi mestre de cerimônias na entrega do prêmio Fluir, revista especializada em surfe, e deu um dos troféus a Silvana.
A global se mostrou surpresa com a situação financeira da atleta e disse não entender como uma surfista tão talentosa não tinha apoio para praticar a modalidade. Ainda no palco, ela se dispôs a ajudar e pediu até que um dos patrocinadores presentes no local se movimentasse.
"Ela estava entregando o prêmio e acabou lembrando de mim. Falou: 'essa menina está sempre ganhando campeonato. Não acredito que está sem patrocínio'. Isso me deixou muito feliz. Ela é bem famosa, está entre os famosos. Para mim foi um orgulho enorme uma atriz e apresentadora reconhecer meu trabalho dessa forma", conta Silvana.
A atitude foi o pontapé que faltava para os donos de uma empresa de comunicação montarem o site SilvanaFree que conta a história de vida da atleta e pede que fãs e admiradores contribuam com dinheiro.
"A gente viu que se uma pessoa famosa e com tanta repercussão como a Fernanda achava tão absurdo ela não ter patrocínio, era porque a gente não estava louco. Era um sinal que a nossa causa fazia sentido. A Silvana é uma pessoa incrível. Ela é muito talentosa, simples, tem origem humilde. Dormiu na rede até os 17 anos. Muita gente vai se identificar. E ela merece que alguém faça o bem por ela", disse um dos idealizadores do projeto, Ricardo Rocha.
Procurada pelo UOL Esporte, Fernanda Lima disse estar muito contente pela ideia inovadora que dará novas chances à surfista no esporte.
"Na noite da apresentação, fiquei extremamente sensibilizada com essa situação, de uma surfista do nível dela não ter patrocínio. Acho, de fato, que o investimento no esporte salvaria grande parte das crianças do mundo, e, por isso, me ofereci para ajudá-los no que fosse preciso. Depois, recebi a notícia de que eles haviam criado esse crowdfunding, e achei super interessante, pois, afinal de contas, ela voltou a ter chances de competir."
Silvana precisa arrecadar US$ 115.508,25 (aproximadamente R$ 279.056,38) para completar todas as etapas do ano: duas na Austrália, além de Peru, Nova Zelândia, México, Estados Unidos, França, Espanha, Canadá, Brasil e China. Os custos se dividem em quatro áreas: viagens, nutrição, equipe e tributos. O apoio não precisa ser só em dinheiro. Quem quiser pode, por exemplo, oferecer transporte ou emprestar um local para a hospedagem.
O esforço já vem dando resultados, mesmo com o site há poucos dias no ar. Em cerca de dez dias, já foram arrecadados US$ 15.890,5 (algo em torno de R$ 38.389,86) para as etapas europeias.
Silvana admite estar surpresa diante da grande adesão. "Poxa, fico muito feliz por estarem acreditando tanto em mim, por estarem ajudando e se juntando para apoiar uma pessoa. É importante acreditar em um projeto tão legal".
A história de vida de Silvana tem tocado as pessoas. A cearense nasceu em Paracuru, município a 87 km de Fortaleza, e sempre teve vida simples. Até os 17 anos, dormiu em uma rede porque seus pais não tinham dinheiro para comprar uma cama. "Não tive luxo, mas foi legal. Não acho ruim, até hoje durmo na rede de boa, não tenho dor na coluna", conta com ar de simplicidade.
Amante do surfe desde pequena, ela conseguiu vencer na modalidade e se tornou vice-campeã do mundo em 2008 e 2009. Mas depois enfrentou muitas dificuldades na carreira.
"No fim do ano recebi um e-mail do patrocinador dizendo que se eu não fosse campeã mundial, estaria fora. O vice não era tão valioso. Faltavam duas etapas, em Santos e em Maui no Havaí. Eu me senti muito pressionada e não consegui ir bem. Ainda fiquei com eles mais um ano e o patrocínio acabou."
Além da perda do patrocínio, uma série de duas contusões sérias nos dois joelhos a afastou do esporte por dois anos. Em seu retorno no ano passado, ela não conseguiu obter bons resultados e ficou na 15ª posição no WCT, caindo para a divisão de acesso.
Depois de enfrentar o momento mais difícil da carreira, ela se considera pronta para se reerguer. "Foi bem complicado, não foi fácil, é muito ruim não poder fazer o que mais gosta que é competir, ter que ficar parada. Eu me machuquei , quando estava voltando, machuquei o outro joelho. Não pude dar o meu 100%. Agora não estou sentindo mais dores, estou me sentindo bem do jeito que gosto e pronta para conseguir o meu objetivo de voltar para a elite".
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