Carlos Burle elogia Medina (Foto: Divulgação)
Gabriel Medina é a estrela do momento. Pela primeira vez na história, o Brasil está muito perto de ter um campeão mundial. Aos 20 anos, o paulista tem encantado o mundo com suas manobras e atitude de gente grande nas situações mais desafiadoras. Os bons resultados no WCT geram comparações com lendas do passado, como o havaiano Andy Irons, famoso pela histórica rivalidade com a lenda Kelly Slater, 2º colocado no ranking no momento.
Além do americano, Medina tem a difícil missão de superar nomes como o atual campeão Mick Fanning e o jovem John John Florence, que promete ser um de seus maiores rivais na carreira. Referência mundial no surfe de ondas gigantes, Carlos Burle tem acompanhado de perto as investidas dos brasileiros e acredita que o jovem de São Sebastião possua todos os requisitos necessários para trazer o caneco.
- Medina reúne qualidades super importantes em um campeão. Ele reúne o talento, a preparação física, tem um biotipo perfeito para surfar, tem uma altura e uma postura boa para o esporte, e ele tem um preparo psicológico bom. É um cara que já mostrou que segura pressão e gosta de competir, é um exímio competidor. Além disso, tem uma estrutura familiar excelente, está cercado de pessoas que o amam, que o acompanham, não é envolvido com drogas, tem esse equilíbrio pessoal. No meu ponto de vista ele é, hoje, um dos surfistas mais perigosos do mundo – declarou Burle.
Carlos Burle é especialista em ondas gigantes (Foto: AFP)
Para o pernambucano, as origens de Medina fazem de suas conquistas algo ainda mais fantástico. A dificuldade de acesso às ondas mais badaladas e perfeitas do mundo e a hostilidade dos surfistas locais com a chegada de atletas estrangeiros dificultam o treinamento e impedem uma adequada preparação para as etapas mais importantes do circuito.
- Se você olhar a história de vida do Kelly Slater (nascido na Flórida), John John Florence (nascido e criado no Havaí), e comparar com o Gabriel, de onde ele veio, ele tem um mérito até maior. Ele não treinou tanto em Pipeline ou em Fiji e Teahupoo, e dentro da água não tem prioridade em nenhuma dessas ondas. Mas ele tem talento para chegar nesses lugares e dar trabalho aos caras que foram "criados" nesse tipo de onda.
Na visão do big rider, porém, apesar das dificuldades, Medina carrega consigo uma vantagem técnica em relação aos seus rivais.
- Uma coisa chama minha atenção no Gabriel: ele tem coragem, muita habilidade, e um diferencial que, pra mim, no formato do campeonato e nas ondas em que ele acontece, está fazendo a grande diferença: as ondas mais difíceis do circuito, aquelas de fundo de pedra, tubulares e “ocas”, são esquerdas, nas quais ele surfa de frontside (fica de frente para a parede da onda). Quando se tem habilidade, surfar uma onda de fronstide, é muito mais fácil que de backside (de costas para a onda). O Gabriel ainda não tem aquele refino todo, mas acho isso ótimo. Um grande campeão tem que entender que ele deve sempre evoluir. E independente do tipo de onda, e condições do mar, ele sempre oferece perigo, sempre vai competir bem – completou.
Gabriel Medina está perto do título mundial inédito para o Brasil (Foto: EFE)
Aos 42 anos de idade e com 11 títulos mundiais na carreira, Kelly Slater é um dos principais obstáculos de Medina na corrida pelo título mundial. Porém, a recíproca é verdadeira. Ao longo das competições, o brasileiro se tornou o algoz do lendário americano, fazendo surgir certas comparações com um antigo rival de Slater, o tricampeão mundial Andy Irons, que morreu em 2010 por overdose, e com quem travou inúmeros confrontos épicos.
- Kelly é um exímio competidor. Ele não vai querer perder. Para ele, competir e não vencer não tem graça. E quanto mais o tempo passa, mais isso cresce dentro dele. Mas é muito cedo para comparar o que aconteceu com Kelly e Andy com o que está acontecendo com ele o Medina. Até porque não é justo: Kelly já tem 42 anos e o Gabriel 20. Ele e o Andy tinham quase a mesma idade, Irons um pouco mais novo. Acho que é muito cedo para falarmos isso. Não acredito que seja uma rivalidade desse tipo. O Gabriel ainda precisa amadurecer muito e um título agora vai mostrar para ele (Gabriel) e para gente o rumo dele no Circuito nos próximos anos. Espero que não só o Kelly, mas outros surfistas, principalmente o John John, tenham essa figura mais presente como o “grande rival”. Ficaria mais interessante para o circuito.
A presença de Kelly no WCT, para Burle, é de extrema importância para a consolidação de Medina como um grande campeão. O fato do atleta, 11 vezes campeão, ainda estar na ativa, faz com que o título do brasileiro tenha um valor ainda maior, segundo o big rider.
E o pensamento é justificável: após ganhar seu sexto título mundial (o quinto consecutivo), Kelly se afastou do Circuito Mundial por quatro anos (1998 - 2002), competindo em apenas algumas etapas. Nesse período, quatro diferentes surfistas chegaram ao topo, incluindo Andy Irons, em 2002. Na época, muitos críticos reforçavam que, apesar de todos os méritos e qualidades desses campeões, a jornada rumo ao título teria sido facilitada pela ausência de Kelly.
- É importante a presença do Kelly Slater no Tour ainda. Para que ninguém fale “poxa, mas o Kelly já estava aposentado. Não é tão desafiador”. Não, ele está presente, e o Gabriel vem provando que realmente está acima da curva.
Kelly Slater é um dos grandes rivais de Medina no WCT (Foto: Agência AP)
Como muitos brasileiros, o campeão mundial de ondas gigantes e antigo detentor do recorde de maior onda já surfada no mundo (superado em 2011 por Garret McNamara em uma onda gigante em Nazaré, Portugal), não esconde sua torcida e ansiedade para ver um compatriota assumir o topo do mundo ao final do campeonato, e compara a importância de Medina para o surfe com outro grande campeão brasileiro fã do esporte.
- Eu tenho mais orgulho ainda do Gabriel por ele estar conseguindo isso tudo com todos os obstáculos que está encarando. Estou muito feliz de ainda estar na ativa e presenciar isso. Para mim está sendo um presente. É uma coisa que eu tinha dúvidas se iria ver ou não enquanto surfasse como profissional e não há sombra de dúvidas que está sendo ótimo para o esporte. Assim como aconteceu no tênis, quando Guga foi campeão e o esporte no Brasil cresceu muito, vejo a mesma coisa acontecendo com o Medina e o surfe.
A corrida pelo título mundial continua acirrada. No último dia 18 de setembro, a oitava etapa do Circuito Mundial, em Trestles, na Califórnia, chegou ao fim. Gabriel foi eliminado nas quartas de final pelo australiano Adrian Buchan. O vencedor da etapa foi o sul-africano Jordy Smith, que bateu o jovem havaiano John John Florence na grande final.
Apesar de ter terminado como quinto colocado nos Estados Unidos, Medina permanece no topo do ranking mundial, com 51,350 pontos. Ainda restam três etapas para o fim da Circuito, na França, em Portugal e no Havaí. Na próxima parada, de 25 de setembro a 6 de outubro, a elite do surfe mundial desembarca para a nona das 11 etapas em Hossegor, na França. Kelly Slater, eliminado em Trestles na semifinal, está atrás do brasileiro na vice-liderança, com 44,850, seguido pelos australianos Joel Parkinson (41,350) e Mick Fanning (39,600), todos ainda com chance de ameaçar o título brasileiro.
*Philippe Matta sob supervisão de Carol Fontes