sábado, 1 de março de 2014

Meninas provam em SP que skate tem espaço para charme e beleza



Elas deslizam sobre rodas e transformam o asfalto em passarela. A nova geração de skatistas de dowhill longboards (skate para descida de ladeira) é independente, bonita, corajosa, vaidosa e se diverte sobre os carrinhos. Prova disso foi o encontro Ladeirada Feminina, que reuniu dezenas de meninas na ladeira da Faculdade de Química, na USP, neste sábado.
“Acredito que antigamente as meninas tinham esse estilo de pedreiro, pois as únicas referências eram homens. Hoje tem muita menina bonita ganhando campeonato e  há uma maior divulgação na mídia”, diz Bruna Gadini, arquiteta de 25 anos de idade e uma das agitadoras culturas do encontro. Ela, além de longboard, pratica muay thai e slackline e exibe um corpo de fazer inveja a muitas mulheres.
“Acabou o tempo dessa história de menina skatista com jeito de pedreiro. A cabeça da mulherada está mais aberta, mulher skatista não tem nada de masculino”, concorda a campeã brasileira de downhill speed, a paulista Reine Oliveira, de 32 anos.
Vice campeã sul-americana, Reine recebe o Bolsa Atleta e foi juíza na semana passada de um campeonato internacional de skate em ladeira no Chile. Recentemente fez um ensaio fotográfico com outras personalidades e foi clicada pelo renomado fotógrafo J.R. Duran, em trabalho a ser lançado em outubro.
Laura Alli (a esquerda) e Reine Oliveira são mães e sempre andam de skate com equipamentos de proteção (Crédito: Paulo Anshowinhas/UOL)
“Mas eu não ando com roupa de skate todos os dias. Sou feminina, rola uma vaidade, gosto de usar sapato alto, vestidinho feminino, e na minha nécessaire sempre tem batom, lápis e, claro, uma chave de skate”, sorri.
Casada com o skatista campeão de speed (skate em velocidade) Juliano Casemiro e mãe de um menino de nove anos, Reine não descarta fazer ensaios mais ousados. “Se convidarem posso analisar. Mas não basta ser feminina. É preciso ser radical e saber os riscos que podem ocorrer. Afinal, a gente lida com asfalto e asfalto machuca”, conclui.
Quem parece não tomar muito cuidado é Biancca Latorre, estudante de publicidade de 21 anos. “Eu ando todos os dias porque é muito mais divertido, mas já bati a cabeça e surgiu um galo”, recorda. Mesmo com o acidente ela prefere o estilo à segurança. “Sei que capacete é necessário, mas eu me faço de louca e uso apenas o boné”, diverte-se.
Com 1,75 m de altura, Biancca já atuou como modelo de passarela e não se intimida quando perguntam porque uma menina bonita como ela escolheu andar de skate. “Quem gosta, gosta, quem não gosta….”, sorri maliciosamente.
Nem sempre os comentários na rua são positivos. Bruna Mars, de 18 anos, conta que foi xingada por um motorista de ônibus em São Paulo. “Me chamaram de vagabunda maconheira”, diz a garota, que usa o skate para se locomover pela cidade.
Os estilos na rua são muito variados. A designer gráfica Andrea Guandaline, de 22 anos, por exemplo, se considera tímida. E basta um lenço na cabeça para fazer a sua moda.  Já a estagiária de administração Alinne Duarte, de 16 anos, usa um “shortinho jeans básico”, mas não sai de casa sem seu rímel, lápis, escova e blush. “Meu estilo é indefinido”, diz.
A auxiliar administrativa maranhense Hellen Monaretto, de 23 anos, por sua vez, machucou o cotovelo e o joelho, e mesmo ensanguentada continuou sorridente a andar na rua e a praticar na corda de slackline, disponível na Ladeirada Feminina. “Dói apenas na hora do banho. E também não me preocupo em agradar ninguém, exceto a mim mesma”, brada.
Quem também parece não se preocupar com outras opiniões é a vendedora Cristiane Andrigo, a Cris Punk, de 22 anos. Com um chamativo capacete decorado com pele artificial de onça, aparelho nos dentes, piercings, tatuagens, fones de ouvidos, cintos no estilo punk rock, luvas, e joelheiras, seu estilo inconfundível é respeitado por todos. “Eu sou assim, e vim aqui para andar de skate”, responde sorridente.
Paulo Anshowinhas

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